Me lembro da minha adolescência e do tanto que gostava de sair, ficar junto com meus amigos e até ir à escola. Lá, gostava de descobrir, experienciar e ver meus amigos mais do que estudar. Normal, claro. É justamente nesta fase da vida que estamos abertos a tudo quanto é experiência nova. Mas a adolescência de hoje está vivenciando o isolamento. Eu nem consigo imaginar como está sendo para esses brotinhos e seus pais viverem esse período. Sem os “rolês” e os amigos, o isolamento social na adolescência pode ser um desafio e tanto, não apenas para eles, mas para toda a família. Para entender, pela perspectiva deles, como está sendo passar por este momento, conversei com a Beatriz, a adolescente mais próxima a mim.
Como os adolescentes estão enfrentando esse período?
A PlayKids faz parte de um programa chamado Jovem Aprendiz. É um projeto do governo federal para incentivar os contratantes a desenvolverem nas suas respectivas empresas programas de aprendizagem para jovens e adolescentes. Nós, da Equipe de Curadoria da Leiturinha, temos a sorte de dividir um pouquinho do nosso trabalho com a Beatriz Vittória. No alto de seus 17 anos, ela está cursando o Ensino Médio em nível técnico. Além de integrar nosso trabalho, a Bia é um dos nossos “termômetros” da juventude. Ela dividiu comigo como está sendo essa experiência da quarentena.
Nas palavras de Beatriz:
“Sentir tédio é inevitável nesses tempos de quarentena. Eu, uma adolescente que nunca gostou muito de sair de casa, estou me sentindo entediada. Como nunca havia sentido antes. O tempo não passa, os dias duram uma eternidade e acabam sendo muito repetitivos. As redes sociais ao mesmo tempo em que são uma aliada pra passar o tempo, são também uma grande inimiga. Em qualquer lugar que navego na internet, me deparo com milhares de notícias sobre a situação atual do mundo. Aí vem a ansiedade. Imagino que a maioria das pessoas também estão passando por isso. Afinal, não é nada fácil lidar com tanta mudança assim, se sentir preso, sentir medo, não poder ter contato com outras pessoas e até deixar de fazer as atividades do dia a dia.”
Os desdobramentos do isolamento na adolescência
Como já mencionei acima, a convivência social é determinante na adolescência. Por mais que alguns jovens fujam ao convívio social com adultos, eles certamente integram um grupo ou respondem a alguma tendência grupal. Isso porque é justamente este sentimento de identificação e pertencimento que é tão importante na juventude. Nesta fase tão incerta, cheia de dúvidas e incertezas, com um misto de vontade de fazer unida à ausência de maturidade para a tomada de decisão, nos lembra um pouco da primeira infância dos nossos pequenos. Quando eles tinham uma tendência à imitação. É justamente essa tendência que faz com que eles aprendam a viver em sociedade, a compartilhar seus gostos e fazer escolhas.
A tecnologia é um aliada! Mas também é preciso cuidado…
Hoje, com o auxílio da tecnologia, dividir ficou bem mais fácil. Os jovens em grande maioria dominam quase que plenamente essas novas ferramentas. Mas agora, mais do que nunca, é preciso cuidado com esses recursos. Nesta fase, o monitoramento, a mediação e a gestão de tempo de uso de telas fica ainda mais difícil. Por isso, é preciso apostar no diálogo.
Converse com eles!
É necessário conversar sobre as fontes de informação e sobre o uso seguro das redes sociais. Mais do que tudo, este é momento de fortalecer a confiança e aprendermos que compartilhar sempre é a melhor solução. Por isso, nós pais temos que aprender a nos comportarmos como cúmplices dos nossos adolescentes. Isso não quer dizer negligenciar comportamentos inadequados. Muito menos compactuar com o que não achamos ser o melhor para eles. Na verdade é preciso demonstrar que, mesmo que uma opinião, uma escolha ou uma atitude deles tenha sido certa ou duvidosa, eles podem se sentir seguros para compartilhá-la conosco. Que isso não vai ser motivo de escândalo, brigas ou repressões.
Nós precisamos deixar claro que sempre estaremos junto com eles para garantir o bem-estar. Apoiá-los em suas decisões e orientá-los, respeitando seus limites, gostos e preferências. Acredito que assim poderemos conduzir este momento tão difícil para algo positivo nas nossas relações de confiança e cuidado com nossa juventude.
Conta para a gente, como está sendo a quarentena do seu adolescente?
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