O que leva à superproteção familiar?
Quero começar este texto com a seguinte reflexão: quando encaramos as conquistas e fracassos dos nossos filhos como sendo nossas, entramos em um caminho perigoso para a superproteção. Quando internalizamos que nosso filho foi mal ou bem em uma prova como sendo nosso sucesso ou nosso fracasso como pais estamos tirando deles a autorresponsabilidade de serem capazes de lidar com os resultados das suas ações.
Com medo de que as crianças fracassem e não sobrevivam a este mundo competitivo, muitos pais têm adotado a política do erro zero. E como o erro é inevitável no processo de aprendizagem, acabam fazendo pelos filhos aquilo que cabe a eles executarem. Não damos tempo nem espaço para que eles vivenciem seus próprios aprendizados.
Mas quais os perigos da superproteção familiar?
O problema de fazermos demais por nossos filhos é que nos habituamos a isso e acabamos por sair do “deixa que eu te ajudo a amarrar o tênis” para “deixa que eu falo com o professor por você”, “deixa que eu falo com a mãe da sua amiga para resolver o seu problema”… E assim por diante. Passamos a pensar e resolver as coisas pelas crianças e adolescentes.
Outro dia estava esperando a aula de futebol do meu filho terminar quando vi o professor se aproximar de uma mãe e filho que haviam chegado. Ele se apresenta e a mãe fala: “Fulano veio fazer uma aula experimental”. “Ah, que legal”, diz o professor, já se virando para falar com o menino. “Quantos anos você tem?” Antes mesmo que a criança pensasse em responder a mãe fala: “9 anos”. Professor (olhando para o menino): “E você já joga futebol?” Mãe (respondendo rapidamente): “Sim, ele já disputou campeonatos”. Professor (encostando no ombro do menino): “Legal, vamos lá então, vou te levar para conhecer a equipe”. Mãe: “Ele está tímido, por favor, ajude ele a se integrar”.
Percebeu o que aconteceu ali? Uma criança de nove anos que não teve, em nenhum momento, a oportunidade de falar seu nome, sua idade, sua história. Quando não damos a oportunidade das crianças falarem por elas, estamos indo além do que nos é exigido como pais e tornando nossos filhos dependentes de nós. Mas afinal, que mal tem ajudar as crianças a se virarem melhor? Crianças são mais novas e inexperientes, elas dependem dos pais. É aqui que mora o problema. Quando uma pessoa passa a ser continuamente dependente da outra, passa a ter alguns sentimentos. Crianças e adolescentes que permanecem em condição de dependência, além de uma pequena dose de gratidão, sentem inutilidade, ressentimento, frustração e raiva.
Então, afinal como saber se estou fazendo mais pelo meu filho do que ele poderia fazer?
A primeira coisa é a observação. Observe como seu filho reage e perceba como ele se sente quando você faz escolhas por ele, quando você resolve seus conflitos. Eu sei, é mais fácil falar do que fazer. Quando você está atrasada para sair de casa e seu filho fica dez minutos tentando amarrar o cadarço do tênis, você se abaixa e amarra para ele. Quando ele sabe comer sozinho, mas leva uma hora para almoçar e atrasa todos na casa, então você vai lá e ajuda. Quando ele começa a arrumar a cama e ela não fica tão esticada quanto você gostaria, então você vai lá e arruma. Quando ele vai tomar banho sozinho e não lava tão bem o corpo, você vai lá e ajuda. Quando ele não quer fazer o trabalho da escola porque não sabe como fazer e você faz por ele.
A todo o momento, quando educamos nossos filhos, podemos escolher elevar sua confiança ou destruí-la. Alguns pais me dizem: o problema é que trabalho demais e não tenho tempo. Para isso, vou parafrasear Marcos Piangers: Se você não tem tempo, não tenha filhos. Leva tempo educar um ser humano. E para educar é preciso abrir mão de desejar que nossos filhos sejam quem queremos que eles se tornem para respeitar quem de fato eles são.
Para incentivar a autonomia das crianças, procure dar a ela escolhas limitadas, demonstre respeito pelo esforço da criança, não se apresse em dar respostas, deixe ela pensar e buscar respostas fora de casa. E principalmente, saiba ouvir seu filho. Respeite o tempo dele e pergunte-se: o que eu poderia dizer ou fazer para incentivar a autonomia da criança?
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