O reconhecimento de sentimentos através de personagens pode ir além da infância e se estender por toda a vida adulta e eu posso te provar isso!
Alguém aí já se sentiu aventureiro e cheio de energia como Finn, de Hora de Aventura? Ou uma pessoa um pouco mais responsável e protetora, como a Doutora Brinquedos? Talvez mais inteligente e misteriosa como Carmen Sandiego, ou gentil e companheira como Dora Aventureira? Alguém que tenta entender seus poderes, como Steven Universo, ou está mais para deslocado e na busca de si, como O Irmão do Jorel?
Na busca de si mesmo… Será que não estamos todos, todos os dias, nessa eterna busca?
Seja com qualquer um dos personagens citados, além de muitos outros, a verdade é que a nossa construção de identidade, desde a infância, as nossas pequenas descobertas de quem somos, passa muito na nossa identificação com os personagens que vivem nos livros, gibis, desenhos e filmes, que nos inspiram e nos fazem sentir vontade de ser tão legais quanto eles.
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Reconhecimento de sentimentos
As famílias, educadores e colegas de bairro e escola, naturalmente, atuam como espelhos para as crianças. Freud disse há muito tempo que, inclusive, na vida adulta tendemos a repetir comportamentos dos nossos pais, mesmo que nem concordemos com eles.
Assunto para lá de complexo, né?
Mas o que quero destacar, é a mudança de contextos.
É diferente quando olhamos para quem está cuidando da gente, de quem está no meio de mil aventuras, vivendo situações fantásticas e tudo mais. É mais fácil para o ser humano, essa criatura complexa, admirar e enaltecer esse outro que está ali mais distante e inacessível.
Por essa e outras os personagens acabam nos fascinando e atuando como modelos. Neles, reconhecemos atitudes boas e ruins, acertos e erros, egoísmo e empatia. Nós, como público, enxergamos com mais nitidez o valor dos sentimentos e como eles operam nas suas tomadas de decisões.
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O Bom, o Mau e a Moral
A moral da história é que o bem, o certo, sempre vencia. Por muito tempo, as expressões artísticas destinadas às crianças tinham agregado valor moralizante e eram simplistas quanto às emoções. Ou um, ou outro.
E aqui não estamos falando apenas nas crianças, pois também acontecia nos filmes para adultos, vale dizer!
Foi uma época criada e fomentada para parecer que a vida se resolvia apenas com dois botões. E a gente percebe que é bem mais do que isso, na verdade, é um quebra-cabeça de sabe-se lá quantas peças. Peças essas que nem sempre estão disponíveis na mesa.
Uma e outra pode ter caído debaixo do tapete ou ter sido engolida pelo aspirador!
O desenho do He-man é o melhor exemplo disso. Fosse como Adam, fosse como He-man, o personagem era bonzinho, gentil, sempre fazia as escolhas corretas, um bom moço que ainda por cima tinha uma espada da hora e um bichinho de estimação como o Gato Guerreiro e vivia no palácio. Ao final da jornada do herói, ele falava diretamente com os telespectadores, indicando os caminhos certos da vida e como lidar com os sentimentos. Conte com a sua família e amigos! 🫂
Atualmente, até parece meio caricato, não é mesmo?
Mas é o que tinha na época e, com certeza, ajudou muita gente. É um desenho que fez história e auxiliou as infâncias e a sociedade a amadurecerem juntas. Pelo menos gosto de olhar por essa perspectiva.
De lá para cá, as histórias e personagens, tornaram-se mais complexos. Exemplo a releitura da irmã do citado, a She-ha, em sua animação mais recente, é uma personagem incrível, de bastante complexidade. É divertido e inspirado acompanhar sua jornada, suas dúvidas, e ver como nos aproximamos deles e de nós nessa brincadeira.
A moral saiu um pouco de cena e os personagens contemporâneos entregam mais sobre os percursos do que sobre o fim da história. Eles são cheios de camadas, são seres que erram e nos mostram como podemos aprender com eles, além de destacarem a importância do perdão e de aceitar que nem sempre vamos acertar e ganhar, nem mesmo os heróis.
O reconhecimento de sentimentos através de personagens é algo comum entre muitas e muitas histórias contemporâneas, é exatamente a busca de saber quem você é. Afinal, é uma busca sem fim! 🔍
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Novos temas no auxílio da construção
No amadurecimento da sociedade e dos personagens, atualmente também podemos nos orgulhar de ver sendo abordados e discutidos novas pautas que estão gritando no dia a dia.
Além do autoritarismo, temos a questão do genocídio, do racismo, dos muitos preconceitos e abordagens sociais como imigração, adoção e pessoas com deficiência. São muitos lugares para as crianças, jovens e adultos se identificarem.
A literatura para a infância brasileira está dando conta disso e são cada vez mais obras discutindo essas questões.
Naturalmente, os personagens ali envolvidos nas situações vão provocar diferentes sentimentos com os leitores. Vão se identificar, sentir empatia, querer fazer o contrário, ficar com pé atrás.
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O diálogo com o texto promove a comunicação com o leitor. Ele sai de uma posição passiva e passa a ser ativa ao nomear os sentimentos e reagir às ações dos personagens e suas condutas. Ele se torna reflexivo e consegue levar isso para o mundo, para suas relações com os outros e consigo mesmo, contribuindo significativamente na construção de sua identidade.
🍿 Hora da Dica: Os Anéis do Poder e Avatar: a lenda de Aang 🍿
Para entender melhor tudo o que falei aqui, trago duas dicas de séries atuais que abordam em muitas camadas as ideias de construção de identidades, e pela gama de personagens envolvidos, é muito interessante pensar como cada pessoa se identifica com um tanto de um, um tanto de outro, gosta de tudo ou rejeita tudo de cada um.
Os Anéis do Poder: baseada no universo de Tolkien, muito antes da conhecida e popular jornada de Frodo, acompanhamos diferentes núcleos se desenvolvendo e buscando compreender quem eles são e quais suas missões. Daria para falar muita coisa, mas destaco um tal mago que aparece por lá e passa a série toda se descobrindo, se construindo, entre bem e mal, entre ações egoístas ou coletivas, ele quer descobrir quem ele é, e observando os outros, nutrindo-se das ações que vivencia e refletindo bastante, acaba por escolher um caminho.
Avatar: a lenda de Aang: aqui, a expectativa de busca, de reconhecer-se aos olhos dos outros e aos seus próprios fica ainda mais nítida. É o real fio condutor de toda a trama. Além de Aang, o núcleo principal enfrenta as mesmas questões: Katara em reconhecer-se como uma dobradora de água poderosa; Sokka em reconhecer-se como um guerreiro e líder; Zuko em reconhecer-se merecedor do trono e orgulho do pai. Você pode assistir tanto na versão animada, quando live action, mas a minha dica é: veja os dois, vale super a pena!
Em cada série, desenho, história, cada personagem vive suas angústias e descobre seus objetivos. E são exemplos maravilhosos para nos ajudar do lado de cá, a superarmos angústias e descobrirmos nossos objetivos.
Como gosto de brincar, não é para copiar os personagens. Cada um é único. Mas nós podemos nos inspirar, ou pegar emprestado um pouco do que mais admiramos em cada um: a leveza de Aang, a força de Katara, a inteligência de Sokka e a confiança de Zuko. Cada um faz a própria mistura e vai se descobrindo.
Pela facilidade das redes sociais, é ótimo que suas frases e paixão pelo conhecimento estejam circulando por aí. Essa provavelmente é a mais conhecida, e nem por isso deixa de ser impactante.
Se autoconhecer é um caminho longo, diz respeito ao próprio universo, ao universo de cada um. Nem sempre fácil, às vezes é duro demais. Mas que revela também muitas paisagens bonitas e divertidas na trilha. Sorte a nossa que temos tanta cultura para suavizar o caminho.
Fecho a reflexão, então, saindo dos personagens e buscando respostas, ou mais perguntas, com um cientista brilhante, Carl Sagan:
“Nós somos uma maneira de o cosmos se autoconhecer. Se somos feitos de poeira de estrelas sistematicamente organizada para formar seres dotados de consciência, então podemos dizer que somos o universo pensando sobre si próprio.”
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