Recompensas: dar ou não dar?
A criança faz a maior bagunça com os brinquedos, espalha todos pela casa e, depois da brincadeira, nada de querer guardá-los. Após muito insistir e conversar, a mãe ou o pai, em uma última tentativa, oferece uma recompensa em troca da ajuda do pequeno. Um brinquedo, um passeio, algumas horas a mais de televisão ou de videogame ou, até mesmo, aquele prato especial que o filho tanto adora. Tentada e motivada pela possibilidade de receber o presente, a criança, então, ainda que a contragosto, decide colaborar com a arrumação. Possivelmente, você já passou por isso ou já presenciou alguma situação semelhante.
Não é raro que pais e mães recorram às recompensas no momento de convencer os pequenos, seja a arrumar o quarto, a ir ao dentista, a comer toda a comida, a tomar banho ou a ajudar em alguma tarefa. Muitas vezes, essa é uma alternativa, de fato, efetiva. Mas será que as recompensas são benéficas para o desenvolvimento dos pequenos?
Incentivo X Condicionamento
Assim como outros pontos na educação dos filhos, as recompensas dividem opiniões. De um lado, pais, mães e especialistas adeptos de métodos como o quadro de incentivo infantil, acreditam que a técnica é um estímulo e que ajuda os pequenos a compreenderem que tudo na vida tem consequências e que as coisas devem ser conquistadas. Por outro lado, tem quem acredite que as recompensas dificultam o desenvolvimento da autonomia da criança, podendo, ainda, conduzir a um conformismo e alienação dos reais motivos pelos quais se deve fazer determinadas coisas.
Para Sarah Helena, mãe da pequena Cecília, de 1 ano e 9 meses, psicóloga e curadora na Leiturinha, “recompensas são um tipo de reforçador do comportamento, porém, é preciso ter muito cuidado com o que se tornará uma recompensa, para não criar uma relação de dependência entre um e outro (por exemplo, só vou lavar a louça se eu ganhar X coisa). Reforçadores naturais se diferem daqueles que dependem de coisas materiais ou recompensas artificiais. Por exemplo, ao arrumar seu quarto, a criança pode sentir-se feliz por estar em um lugar organizado e em perceber que fez a coisa certa, já que é responsável pelo ambiente em que vive, mas primeiro isso deve ser algo de valor para esta criança – o que não se constroi com recompensas, mas com muita conversa e escuta, de acordo com cada família. Como alternativa aos reforços artificiais ou recompensas, a disciplina positiva aponta para a necessidade de uma educação pautada no exemplo e no respeito mútuo, levando em consideração as fases do desenvolvimento de cada criança.”
Com a palavra, a família!
Para entender a opinião de pais e mães e como essa prática é aplicada no dia a dia das famílias com os pequenos, nós fizemos uma pesquisa em nossas páginas do Facebook e do Instagram. Das 2.099 pessoas que participaram da enquete que realizamos, 71% das pessoas responderam que acreditam que as recompensas funcionam na educação das crianças, contra 29% que não acreditam nessa técnica. Confira alguns depoimentos que recebemos do público em relação ao uso de recompensas na educação dos pequenos:
Depende. Há crianças que aceitam bem estímulos externos e reagem positivamente. Porém, tenho percebido que cada vez mais alguns grupos de crianças, talvez por estarem cheias de tudo, esse estímulo não age como reforço. Numa sociedade onde a falta é cada vez mais tamponada, seja com informações ou coisas, fica cada vez mais difícil manter esse tipo de reforço. – Patricia Martins Dos Reis, no Facebook.
Acho que depende. Se algo for muito crítico, acho que não faz mal e ajuda, mas não concordo em recompensar por tudo que faz. Minha filha estava muito agressiva. Então, compramos o painel do incentivo e ajudou muito para ela entender que bater tem consequências e todo mundo perde. Se for sem chantagens e em situações críticas, onde já tentamos outras coisas e não funcionou, de forma leve acho que não faz mal algum, tudo precisa de leveza. – aninhats, no Instagram.
Não acho coerente recompensar a criança como forma de motivar para cumprir com suas responsabilidades (tarefas, arrumar cama, brinquedos, dentre outros). Vejo isso como algo natural, pois vai realizar algo para seu próprio benefício. O que vejo é que posso mostrar os efeitos ruins de não fazer e ir explicando (claro, que isso é trabalhoso). Estaremos reproduzindo uma sociedade em que o justo é compensatório ou receber um pagamento por qualquer coisa que fazemos… Tenho filho e não faço promessa compensatória por algo que ele precisa aprender ser natural na dinâmica familiar e social. – rosenaldoemiguel, no Instagram.
Acho que a recompensa deveria ser um passeio. Acho que dar presentes contribui para que a criança seja “interesseira”. E digo mais, acho que as crianças precisam aprender a fazer as coisas por serem o certo e não para ganhar recompensas. – Claudia Rocco, no Facebook.
A recompensa (reforço positivo) não, necessariamente, deve ser feita com algo material (presente), mas com carinho e atenção, empolgação e emoção. Uso a recompensa nas atividades da escola. Quando faz com perfeição, ela recebe aplausos e beijinhos. Quando erra ou não faz direitinho, corrijo com carinho. O estímulo positivo a deixa muito feliz e satisfeita em agradar a mãe. Hoje ela faz pela recompensa imediata: deixar a mãe feliz, mas com o tempo isso imprimirá nela o compromisso de estudar POR ELA… – remamanuteus, no Instagram.
Estou passando por uma fase bem difícil aqui, meu pequeno de 8 anos não escova mais os dentes, não arruma a cama e não se preocupa com seus pertences. Já tirei videogame e computador, agora tive que tirar os desenhos. Mas não concordo com o fato de ter que recompensá-lo por fazer coisas que são sua obrigação, como sua própria higiene. Essa difícil arte de educar não tem certo ou errado, e sim cada um segue seu método. Queria que ele fizesse as coisas por comprometimento e responsabilidade, não porque quer algo em troca, apenas minha opinião. – fabyanne_amaral, no Instagram.
Leia mais: