Muitas famílias foram afetadas pela quarentena e consequentemente as crianças. As aulas passaram a ser em casa, o contato físico com os amigos da escola não pode ocorrer e com isso, as crianças precisaram se reinventar. Reinventar a forma de estudar e de brincar. Então, como as crianças isoladas pela quarentena estão se sentindo?
Vou contar para vocês como está sendo para nós. No dia 16 de março fui buscar meu filho na escola e avisei a professora que só o traria novamente quando as coisas estivessem mais tranquilas. No dia 19 de março a escola fechou as portas e até este momento em que estou em casa escrevendo esse texto, ainda não reabriu. Do dia para a noite eu precisei ajustar toda minha agenda de atendimentos e perdi vários trabalhos em função do distanciamento social. Eu, meu marido e meu filho de 5 anos anos de idade nos isolamos em casa.
No início, para o Rafael era como se estivéssemos de férias, mas sem viajar
Aos poucos foi sendo necessário reajustar a rotina da casa, porque aquela que tínhamos já não nos atendia mais. Rafael se viu desafiado a ficar algumas horas do dia praticamente sozinho enquanto eu e meu marido dávamos conta dos nossos trabalhos (que agora estavam integralmente dentro de casa). De repente, nosso lar virou escola, local de trabalho, de jogar bola, de cinema e muito mais. Até acampamento tivemos em casa.
O mês de junho foi chegando e com ele o aniversário do meu filho
Seis anos, muitas ideias para decoração da festa, mas espera… Não podemos convidar ninguém. Certo dia, enquanto estávamos tomando um sol na área do prédio ele me disse: “Mamãe, posso chamar pelo menos o vizinho para cantar parabéns para mim?” Aquilo doeu no coração. Falei pra ele que faríamos uma festinha bem bacana só nós três, mas que poderíamos convidar muitas pessoas para cantar parabéns pela internet. Ao que ele me disse: “Seria legal se meus amigos tivessem um bolo para cantar comigo né mamãe?” Aquilo ficou na minha cabeça.
Então, um dia, conversando com a dinda do Rafa que tem uma empresa de festas, comentei com ela que gostaria de fazer uma maletinha com docinhos, salgadinhos e uma lembrança para levar na casa de cada colega do Rafa. E assim fizemos. No dia 04 de junho, colocamos as máscaras nos nossos rostos, montamos um mapa de entregas e saímos pelas ruas de Porto Alegre a entregar 16 kits de aniversário na casa de cada colega.
Eu não tinha nem ideia do que iria encontrar pela frente. Ao chegar no portão de cada casa, prédio, Rafael se deparava com o colega vindo receber o kit. Era um misto de vergonha com euforia e emoção que tomava conta do corpo do meu filho. Felizes, sem poderem se tocar, as crianças trocaram olhares e sorrisos que encheram meu coração de alegria. Voltamos para casa todos felizes, com Rafael falando sem parar, sobre cada colega que havia encontrado.
Como as crianças se sentem nesse momento que estamos vivendo?
Isso me fez pensar muito sobre como as crianças sentem esse momento que estamos vivendo. Ouço falarem que elas não sentem tanto, que para elas é mais fácil. Concordo. Crianças vivem no presente. Adultos costumam estar presos no passado ou futuro. Crianças vivem no mundo do é e não no mundo do não é. O que importa para elas é esse momento e por isso fica mais fácil dar conta de lidar com o isolamento social. É claro que elas sentem falta de estar com os avós e com outras crianças. Mas é possível atender a necessidade de uma criança de diferentes formas se deixarmos a imaginação e criatividade fluir.
O que faz a criança ficar mais inquieta, irritada e mesmo cansada está muito mais conectado com o comportamento dos adultos que estão com ela do que com qualquer outra coisa. Se estivermos preocupados, cansados, irritados, pensando em como o futuro será ou como o passado era legal, estamos desconectados do momento presente e, portanto, desconectados da criança. É isso que a deixa ansiosa e agitada.
Crianças vivem o mundo do agora
Se pudermos nos conectar com isso, teremos filhos mais tranquilos dentro de casa. Antes que você me julgue, eu sei que é desafiador. A vida adulta traz consigo muitas questões para darmos conta: contas a pagar, trabalho a entregar… Por isso, minha sugestão é de que você exercite estar presente. Não pense em nada além daquilo que a criança está te propondo naquele momento, por uma hora do seu dia. Exercite. Somos capazes!
Conta para a gente, como que seus pequenos estão se sentindo nesse momento?
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