Cresci em uma família onde minha mãe e minha avó cuidavam de todos os detalhes da casa e dos filhos. Meu pai chegava no final do dia, tomava banho, jantava e lia uma história para os filhos, que já estavam de banho tomado e prontos para o jantar. Minha mãe e meu pai trabalhavam fora, mas os cuidados da casa eram exclusivos das mulheres. Minha avó paterna tinha a certeza de que lugar de homem, com certeza, não era na cozinha. Assim ela ensinou meu pai.
Hoje, vejo muitas mulheres ensinando seus filhos a lidarem com as tarefas domésticas. Mas ainda estamos longe de um sistema igualitário entre homens e mulheres. Prova disso é o resultados de algumas pesquisas realizadas durante o isolamento social que estamos passando. A pesquisa mostra que 53% das mulheres afirmaram que tiveram o emocional abalado de alguma forma, enquanto 37% dos homens tiveram a mesma percepção. Isso mostra uma sobrecarga emocional muito grande em cima das mulheres.
Estudos mostram que ansiedade em mulheres é maior que em homens
Outro estudo realizado pela universidade de Cambridge, nos EUA, demonstra que o transtorno da ansiedade é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens. Fruto de uma sociedade que exige que ocupemos diversos papéis ao mesmo tempo e estejamos sempre lindas e belas como em comerciais de televisão. Essa cultura da “supermulher” está tão entranhada em nossa sociedade que as próprias mulheres vestem essa capa. E sentem-se culpadas e fracassadas quando não conseguem dar conta de tudo.
O casal precisa estar integrado!
Quando presto consultoria para mães, um dos temas que mais aparece é a falta de integração do casal no cuidado da rotina da casa e da educação dos filhos. Essas tarefas ainda são quase que exclusivas das mulheres. Mesmo com muitos homens participando das tarefas domésticas e com o cuidado dos filhos, as mulheres ainda sofrem com a pressão de precisar dar conta do planejamento doméstico. Para deixar claro o que estou querendo dizer, vou trazer um exemplo real que eu mesma vivi. Quando meu filho era um bebê.
Vamos lá…
Rafael acordava de 4 a 5 vezes por noite. Eu parecia e me sentia um zumbi durante o dia. Pelo fato de precisar amamenta-lo no peito, sempre era eu quem acordava e ia atendê-lo. Quando ele desmamou falei para meu marido: “Agora é contigo, você que levante e faça ele dormir de novo.” Acordo feito..
Primeira noite. Rafael acorda e chora. Chora mais. Chora mais. Nada do pai levantar. Resolvo então cutucar: “Ei, Rafa acordou”. Depois de 5 intermináveis minutos ele levanta, caminha até a cozinha, volta para o quarto e pergunta: “Quantas colheres de leite em pó eu coloco na mamadeira?”. Eu respondo cinco. Ele volta para a cozinha. Um minuto depois retorna ao quarto (e detalhe, Rafael segue chorando), “Quantos mLs de água mesmo?”
Nesse momento eu já estava muito irritada pelo choro do Rafa. E também por não estar atingindo meu objetivo quando pedi que meu marido levantasse nas madrugadas: eu queria dormir! Então, naquele estado de fúria eu pensei: “Deixa que eu faço! É mais fácil. Se eu vou ter que ficar acordada explicando como faz tudo, deixa que eu mesma faço porque resolvo mais rápido.” Essa sempre havia sido a minha lógica de pensar durante a vida toda. Até que comecei a me dar conta que é exatamente aí que a gente começa a não dar conta e ficar doente.
A sobrecarga emocional existe e não podemos deixar nos atingir: precisamos dividir com nossos companheiros
É humanamente impossível cuidar de uma casa, dos filhos e de uma profissão sozinha. Ficar dizendo o que precisa ser feito não é uma divisão igualitária. Dividir igualmente a administração de um lar é pensar: temos uma casa e filhos para cuidar, como faremos? Então as duas partes opinam e se comprometem.
Mas o que temos hoje são mulheres que pensam em toda logística e organizam a divisão de tarefas da casa. Só que o trabalho de pensar e planejar como será feito é, muitas vezes, mais exaustivo do que a execução da tarefa. Não é à toa que, na quarentena, as mulheres sentem-se mais sobrecarregadas do que os homens.
Respire fundo!
Então, é preciso respirar fundo e abrir mão de que as coisas sejam feitas do nosso jeito. Permitir que os homens assumam seu papel dentro de casa e se responsabilizem por planejar e executar a rotina. A grande reclamação de muitas mães é: “Meu marido não sabe fazer direito” ou “Nosso filho só quer que eu dê banho nele, não quer o pai.”. Nesses discursos que fazemos para nós mesmas, vamos nos auto sabotando.
Uma superdica
A dica que eu dou é: se você não consegue ver o seu companheiro fazendo de um jeito diferente do seu, saia de perto. Se o seu filho só quer você e chora cada vez que o pai vai dar banho nele ou colocá-lo para dormir, se tranque no quarto, coloque um fone de ouvido e vá ouvir uma música para não ouvir o choro da criança. Se você soltar, tenho certeza que o pai e filho vão encontrar um jeito de se entenderem. Tenha um mantra para repetir sempre: não é mais fácil fazer tudo sozinha! Converse com seu par e decidam como irão planejar a rotina de vocês juntos.
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