Caro leitor, há um tempo não tão distante não existiam crianças. Isso mesmo, o que hoje consideramos crianças, antes eram também adultos, pequenos adultos. E como não havia infância, não existia uma preocupação em dar uma atenção específica a essa faixa etária. Assim, as crianças partilhavam do mesmo espaço, tempo e cuidado que os demais integrantes de sua comunidade.
O cenário mudou quando algumas transformações sociais, econômicas e culturais ganharam espaço e afirmaram a importância de olhar para a infância de forma diferenciada. Dessa forma, a infância foi se tornando um espaço privilegiado no qual era preciso preparar e formar futuros cidadãos. Para contribuir com essa preparação, um gênero muito especial ganhou seus primeiros contornos: a Literatura Infantil. Até hoje não há leitor ou leitora que nunca tenha ouvido falar em Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, A Bela Adormecida, o Gato de Botas e por aí vai.
No entanto, assim como a história da infância, a história dos clássicos passou por algumas transformações. Para você conhecer um pouquinho mais sobre esse gênero, preparamos algumas curiosidades sobre clássicos infantis:
1. Existem várias versões sobre os clássicos
Como histórias da tradição oral, não há como saber exatamente a origem dos Contos de Fadas. Alguns autores, como Charles Perrault e Christian Andersen, são muito citados. No entanto, embora eles tenham registrado e adaptado as histórias, ainda assim a autoria é um mistério. Mesmo sem autoria, é possível encontrar muitas versões e releituras dos famosos clássicos infantis. É só fazer uma rápida pesquisa em bibliotecas e sites para rapidamente encontrar uma vastidão de chapeuzinhos vermelhos e cinderelas.
2. Em versões mais antigas, as narrativas não se preocupavam em esconder ou amenizar temas como a violência e a morte
Os Contos de Fadas não foram feitos especialmente para crianças, mas sim para ouvintes, independente da faixa etária. Por isso, nas versões mais antigas não há uma preocupação em esconder ou adaptar alguns assuntos como violência e morte. Para entender um pouco o porquê da presença desses temas nos contos clássicos é só fazer o exercício de imaginar como era a realidade nos séc. XVI e XVII. Os contos clássicos também dizem da dureza de sua época. As versões mais atuais passaram por um processo de recorte, no qual foram retiradas algumas partes e suavizadas outras.
3. Os contos clássicos diziam do imaginário de uma época
Cada época tem suas preocupações, medos e anseios. Houve um período em que o medo dos pais era que as crianças se perdessem em bosques. E como evitar que os pequenos por lá se aventurassem? Por que não uma boa história, em que homens mal intencionados assumem a forma de lobos? Parece que essa foi uma das motivações para a criação de muitos contos clássicos. Ensinar as crianças que era preciso temer certas coisas era uma forma de garantir a sobrevivência do grupo.
4. Os contos clássicos dizem algo sobre humanidade
Morte dos pais, ciúmes, inveja, egoísmo… Se pararmos para analisar detalhadamente, todo conto clássico apresenta conflitos compartilhados pela espécie humana. Escritores arriscam dizer que justamente por dizer tanto da natureza humana é que o clássicos resistem por tanto tempo e em tantos contextos.
5. Existem estudos em Psicanálise sobre os contos clássicos
Sabendo do potencial dos contos clássicos para povoar o imaginário dos leitores, sejam eles crianças ou adultos, alguns pesquisadores se detiveram a estudar essas produções. É o caso do livro “A psicanálise dos contos de fadas”, de Bruno Bettelheim, e o “Fadas no Divã”, de Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso.
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