A Educação é um dos setores que mais sofreram nesse período de reclusão. As escolas tiveram que mudar completamente as suas estratégias de ensino do dia para a noite. Sendo forçadas a rever todas as rotinas escolares, e encontrar alternativas para professores, alunos e pais. Para entender melhor esse cenário de educação na quarentena, conversamos com Valéria C. Rachid Ribeiro, Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal da cidade de Monte-Mor, da Rede Pública do Estado de São Paulo e Maria Teresa Nassif Mesquita de Paula, Coordenadora de Educação Infantil da Rede Privada de Poços de Caldas.
Adaptações para uma nova rotina
Sem as aulas presenciais, a Escola Infantil teve que se readaptar. Valéria fala que a escola em que trabalha criou um blog para as atividades escolares, e conta com a sua equipe de professores para preparar as atividades que são postadas semanalmente. Para os alunos de todas as séries, a estratégia foram aulas online baseadas no currículo e na BNCC, de forma interativa. “Procuramos fazer atividades sem caderno, atividade que não precisam de registro, com supervisão da família. Brincando com o pai, com a mãe e com o irmão”, conta.
Para Maria Teresa, a solução foi similar. “Nós estamos sugerindo atividades para as famílias através de videoconferências. Aproveitando a casa como centro de pesquisa, ressignificando o espaço dela e criando memórias futuras. Queremos que seja um tempo de qualidade, e a proposta gira em torno disso com corpo, movimento, linguagem, música, contação de história e arte“.
Está sendo um desafio também para os professores
Maria Teresa assim como Valéria, sentiram uma apreensão inicial do corpo docente. No entanto, com o passar do tempo, a situação foi se acomodando da melhor forma possível. Maria Teresa conta que a maior frustração dos professores foi o pouco retorno dos pais quanto às atividade. “Eles se perguntavam se deviam continuar enviando as atividades, mesmo sem o retorno dos pais. Para contornar a situação, contactamos os pais para entender os pesos das atividades. Os próprios pais também estavam frustrados por não realizarem as atividades”, conta.
Valéria contou que em abril começou o isolamento em sua escola. Em seguida, as férias de julho foram adiantadas. Já em maio, a escola retornou com o home office. No entanto, os funcionários administrativos continuam indo para a escola no esquema de rodízio. “Os professores apresentaram um medo inicial, no entanto, tiveram muita orientação da secretaria, para solucionar dúvidas e resolver conflitos”.
Quais as maiores dificuldades?
Maria Teresa conta que o principal foco da educação infantil é a socialização das crianças. Através das relações de amizade, respeito e estímulos da afetividade. Então, esse é o grande desafio do momento: garantir a socialização sem os encontros presenciais. “Os professores estão estudando sobre o papel da educação durante esse período, buscando apoio em filósofos e estudiosos sobre esse novo contexto”, conta.
Valéria divide que um dos desafios é o contato do aluno com os recursos educacionais, que frequentemente se dá pelo celular dos pais. Muitos pais estão trabalhando normalmente, o que acaba dificultando o acesso dos alunos ao conteúdo.
Como foi essa mudança para as crianças?
Maria Teresa conta que a mudança de rotina foi bastante abrupta para as crianças. Elas estudavam em um espaço grande, com acesso à terra, aos bichos, e de repente esse espaço foi reduzido ao apartamento. “Alguns alunos travaram, não queriam saber da escola e dos professores. Depois de um tempo esses alunos começaram a se adaptar à nova rotina. Outros que tiveram uma adaptação inicial boa, com o passar do tempo se retraíram. Alguns choram quando passam na porta da escola, porque querem entrar, é difícil”, divide.
Em alguns anos não obrigatórios houve evasão
Maria Teresa conta que nos anos não obrigatórios, houve evasão dos alunos. Os pais que permaneceram são os apaixonados pelo propósito da escola. Tivemos diversas reuniões com os pais, e a grande questão era a reorganização da rotina. Conseguir conciliar todas as tarefas. A maior demanda dos pais foi a questão do medo com o futuro. “Deixei claro que eles não são professores, e sim pais, para amenizar as auto cobranças.”, conta.
E quais são as preocupações frente ao ano de 2020?
“Cuidar para que tudo que estamos vivendo seja de menor impacto. Teremos que ter muitos cuidados emocionais. Esta geração está marcada, temos que focar no emocional, afinal a aprendizagem conteudista vai acontecer eventualmente”, conta Maria Teresa.
Valéria conta que teremos que ter muito foco durante 2020. “Temos que focar no que é primordial. Reestruturar o conteúdo de acordo com a faixa. Para o segundo ano do Ensino Fundamental 1, será um esforço redobrado dos professores para garantir a alfabetização”.
E o retorno às aulas?
Quanto ao retorno, ambas comentam sobre a readaptação das crianças. Valéria adiciona o possível medo frente ao retorno. “Acho que o medo será uma questão, tanto dos pais de mandarem os filhos para a escola, quanto dos profissionais de terem contato com os pequenos e com os outros”.
Quanto ao ano de 2020, Valéria se mostra muito positiva. “Não podemos falar que o ano foi perdido. Na educação tudo é uma conquista, mas não será igual aos anos anteriores. Temos que ser otimistas e pensar que já construímos alguma coisa. As atividades estão sendo feitas. Primeiro lugar a vida e depois vemos o que mais teremos que construir”.
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