Afinal, qual o parto ideal?!
O parto ideal é aquele que você escolhe para você e para seu bebê. Não temos dúvidas de que o parto vaginal, por ser fisiológico, traz inúmeras vantagens para a mulher e seu bebê. Já existem diversos artigos que comprovam os benefícios desta via de parto tanto para mãe como para a criança. Entretanto, diante de sua história de vida, cada mulher irá fazer a escolha que melhor lhe convém. Além disso, precisamos estar atentas aos profissionais que têm algumas restrições em relação ao parto vaginal e acabam fazendo cesariana sem indicação real.
Se sua vontade for o parto vaginal, vale a pena se preparar para ele. Nos meus textos anteriores aqui no Blog Leiturinha, explico direitinho sobre essa preparação e sobre como lidar com o medo da dor do parto. Acesse:
👉Como se preparar para o parto?
👉Dor de parto: como lidar da melhor forma?
O parto real é aquele que é melhor para você e para seu bebê
Seja o nosso ideal um parto vaginal ou uma cesariana, o que precisamos estar atentas é que o parto na vida real vai depender de diversos fatores que não controlamos!
Já tive pacientes que se preparam para uma cesariana mas acabaram entrando em trabalho de parto e tiveram um lindo parto vaginal. Já tive outros casos em que a mulher se preparou para o vaginal e acabou precisando ir para uma cirurgia por ser a melhor opção para a saúde da mãe e bebê. Ambos os casos são exceções mas que podem acontecer.
Além disso, também existem aquelas que tiveram cesarianos e partos vaginais como planejado, mas que por algum motivo gostariam que fosse diferente. Resumindo, ao longo desses mais de 10 anos acompanhando mulheres nesse momento tão sublime de suas vidas, percebo que não existe um parto ideal, existe um parto real que vai depender da realidade de cada mulher e da história de vida de cada bebê. O mais importante é que a sua experiência seja positiva, afinal de contas é o dia do nascimento do seu filho(a) e esse dia merece ser lembrado como um dia de alegria.
Dentro do parto ideal:
– Estude sobre o parto, suas fases, indicações reais de cesariana.
– Escolha uma equipe humanizada, de preferência aquela indicada por alguém que teve experiência positiva de parto
– Prepare seu corpo e mente para viver essa jornada. Afinal de contas você não sabe o tempo que vai durar, o tamanho da dor que vai sentir. Por isso a preparação faz toda a diferença para que a experiência seja positiva
– Tenha uma doula para te acompanhar no momento do parto
– Prepare seu acompanhante
– Faça seu plano de parto
– Se possível espere seu bebê escolher o dia dele nascer
– Esteja aberta às mudanças que podem acontecer ao longo desse caminho.
Em uma das formações de educação perinatal que fiz, a do método Lamaze, ajudava os pais a tomarem decisões informadas pensando sempre em BRAIN – cérebro em inglês. Assim, sempre que os resultados inesperados surgirem, essa é uma ferramenta que vai te guiar!
Funciona assim, tudo o que lhe for sugerido diferente do que você planejou pense:
B- benefícios: quais os benefícios deste procedimento?
R- riscos: quais os riscos? Esse procedimento traz quais consequências?!
A- alternativa: existe alguma alternativa? Outro procedimento? Esperar mais?
I- intuição: o que seu coração está dizendo diante do que lhe foi sugerido?!
N- negociação: momento de tomada de decisão. Sua resposta pode ser sim, agora não, nunca! Diante de tudo o que foi pensado e analisado você toma a melhor decisão.
Expectativas X Realidade: um relato sobre o meu parto
Antes de Maia nascer, as pessoas perguntavam qual era minha expectativa em relação ao parto. Eu apenas dizia que era uma página em branco para ser preenchida. Eu já trabalhava na assistência há muitos anos, já sabia como profissional que no parto tudo poderia acontecer, inclusive nada! Que poderia demorar ou ser rápido. Que poderia ser como planejado ou oposto. Então resolvi apenas me entregar ao que tinha que ser. Escolhi uma equipe para me acompanhar e deixei Maia, que não tinha nome ainda, decidir e assim foi!
Dentro do meu planejamento eu queria parto domiciliar, não que eu seja uma incentivadora desse tipo de parto, apenas porque desde muito antes de pensar em trabalhar com isso eu me via parindo em casa. Então resolvi seguir meu coração.
Em um primeiro momento fui buscar uma equipe que eu gostava muito de trabalhar mas que fazia parto hospitalar. Confesso que tentei convencer o obstetra a fazer minha assistência em casa e ele quase aceitou, mas com muito profissionalismo me disse que não seria confortável pra ele pois não se sentia seguro nesse ambiente. Achei perfeita a colocação dele, e me vi no lugar das minhas pacientes que queriam convencer médicos cesaristas a fazer parto vaginal simplesmente porque tinham um carinho grande pelo profissional.
Nesse momento me perguntei: quero tentar parir em casa ou quero desistir do meu sonho para parir com uma equipe que tenho um vínculo forte? A resposta foi viver meu sonho. E fui buscar outros profissionais tão maravilhosos quanto para estarem comigo neste dia.
Quando completei 40 semanas e 1 dia entrei em trabalho de parto. Confesso que no começo eu posterguei ao máximo pra afirmar que estava vivendo esse momento. Como profissional eu sabia que poderia durar dias ou horas então preferi ir levando sem expectativas.
Lembro que fiquei de 8h às 13h tomando banho de mar no píer do meu prédio. Era janeiro, o dia estava lindo e banho de mar pra mim é algo sagrado que lava minha alma e me reenergiza! E foi assim. Lembro que às 15h eu achei que estava diferente, e pedi pra enfermeira vir me avaliar. Meu companheiro já tinha se antecipado e a enfermeira chegou exatamente na hora que eu precisava.
Às 16h chegou minha doula, às 17h a bolsa rompeu e às 19:44 Maia nasceu! Só que não acaba aí, depois do parto precisei ir para o hospital pois Maia estava com desconforto respiratório e precisaria de assistência. Resumindo a longa história, ela precisou fazer uso de antibiótico e acabamos ficando no hospital por 9 dias!
Vivi um dos momentos mais incríveis e transformadores da minha vida, preenchendo essa página em branco com o melhor que poderia ser vivido. Eu não planejava ir para o hospital, mas naquele momento essa era a melhor opção. Hoje reconheço que se eu tivesse ficado em casa sozinha com André e Maia eu não estaria preparada. Apesar de trabalhar na área eu não fazia ideia de como seria meu pós- parto. Não fazia ideia da fome intensa o dia todo. Do cansaço, da necessidade de um bom banho da cabeça aos pés! O fato de eu ter ficado no hospital me possibilitou uma assistência que foi fundamental para que eu me adaptasse a esse novo mundo.
Então uma outra dica que trago pra vocês é: se preparem para o pós- parto!
Muitas vezes focamos apenas no parto e acredite ele passa muito rápido! O pós-parto permanece. Com intensidades e momentos diferentes, mas ele é mais duradouro. Brinco dizendo que o parto vai passar, mas o pós-parto perdura pro resto de nossas vidas!
Meu conselho pra você: procure ao máximo organizar sua rede de apoio para que você possa se dedicar apenas ao seu bebê no pós parto. Tarefas de casa, contas a pagar, mercado, limpar casa, lavar roupa, fazer comida… Já deixe tudo organizado pra quando você parir não precisar pensar em nada! Sei que isso é um privilégio, mas se você conseguir se organizar dessa maneira tenha certeza que vai valer a pena! Algumas dicas para te ajudar a passar por este momento:
– No começo o bebê mama a cada 2-3h, você precisa descansar, se hidratar e se alimentar para produzir leite.
– Evite visitas que passam a tarde inteira e deixam pratos sujos para serem lavados.
– Nos três primeiros meses, principalmente, durma ou deite quando seu bebê dormir. Tenha alguém para oferecer comida a cada 2-3h ou até antes! Procure uma boa consultora em amamentação caso tenha dificuldades.
– Converse com seu marido sobre suas necessidades e, principalmente, confie nele como pai! Às vezes nós, mães, acabamos centralizando tudo na gente. Isso não é benéfico pra ninguém!
– Quando outra pessoa tiver com seu bebê procure relaxar ou fazer algo por você! Às vezes seu marido ou sua mãe ou sogra estão cuidando do bebê e a gente fica apenas olhando ao invés de ir fazer outra coisa. Aproveite toda ajuda para que você possa recarregar as energias!
– Faça caminhadas ao ar livre com seu bebê no sling sempre que possível! – comecei a caminhar com Maia quando ela tinha 15 dias! Era revigorante. Às vezes ficar em casa o dia inteiro pode ser exaustivo!
Resumindo: não existe um parto ideal! Existe sim, o parto que você e seu bebê precisam viver para se preparar para a nova jornada chamada puerpério! Lembrem sempre de pensar além do parto. Planeje tudo o que for possível e se entregue. Tudo é muito intenso mas acredite: passa muito rápido! Que tenhamos sabedoria para aproveitar o melhor de cada momento vivido! Um excelente parto e pós-parto para todas!
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👉Amamentação em livre demanda: o que isso realmente significa?